quinta-feira, 28 de março de 2013

Capítulo 12 - O Teatro (rascunho)


        A preocupação de Luca com Solk já havia diminuido, devido a serenidade do rosto do amigo, ainda adormecido. Sua temperatura ainda se mantinha instável, mas sem grandes alterações. Enquanto observava Solk, a mente de Luca borbulhava com tudo o que havia acontecido, mas principalmente com a visão de Hadel. "Ele sabe que estou vivo."
        A constatação de que Hadel não só sabia que ele sobrevivera, mas também que havia aberto uma passagem era o que mais o preocupava. Será que Hadel sabia que havia mais alguém do mundo lógico em Greenfar? Apesar de torcer pelo contrário, Luca sabia que Hadel o havia descoberto. Era óbvio que Hadel tentaria abrir uma passagem novamente, mas essa conexão entre passagens abertas era novidade.
        Quanto tempo levaria até que Hadel o encontrasse? E Solk? O amigo era sua responsabilidade agora. E como explicar que ele não poderia voltar e que sua vida também havia desaparecido? A confusão na cabeça de Luca parecia não ter fim até um barulho próximo a mesa onde a passagem havia sido aberta interromper seus pensamentos.
        Luca se levantou e foi em direção ao barulho. Algumas vasilhas haviam caído. Quando se abaixou para pegá-las, um grande par de olhos verdes o observava atrás da mesa.
        O dono daqueles olhos não se movia, apenas o observava e por alguns instantes Luca não soube como reagir.
        - O-oi? disse Luca receoso.
        A voz que veio de trás da mesa sussurrou com um doce tom de medo:
        - Quem é você e onde eu estou?
        "Mais uma!", pensou Luca com desespero. Quantas pessoas ele havia trazido para Greenfar?!
        - Eu me chamo Luca e você está em Greenfar. Você está bem? - disse estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.
        Por um instante a menina não se moveu, mas não havia opção a não ser sair de onde estava. Suas pernas já não aguentavam mais ficar encolhidas sob a mesa. Ela ofereceu a mão trêmula e ao se levantar teve que ser amparada.
        - Me sinto um pouco mal. Estou com uma dor de cabeça incômoda desde que cheguei aqui, preciso ir para casa.
        Luca pensou em como responder a isso e decidiu que seria um assunto tratado mais tarde.
        - O que está acontecendo? Como eu vim parar aqui? - perguntou a moça.
        - É difícil explicar, talvez mais tarde. Preciso garantir que você está bem. Sente-se aqui, sente alguma outra dor?
        - Não, não. Apenas a mesma dor chata de cabeça, mas nada muito forte. Uma aspirina resolve. Devo ter na minha bolsa.
        Ela puxou a mochila que estava no chão e tirou um comprimido da carteira. Luca trouxe um copo de água e achou graça, já que há muito tempo não via alguém tomando um remédio.
        - Qual seu nome?
        - Lena. O que aconteceu com ele? - respondeu enquanto olhava pela porta para o jovem deitado.
        - O mesmo que deveria ter acontecido com você, mas ele está bem agora. - respondeu Luca, ainda surpreso por tê-la encontrado tão bem. Não parecia que havia acabado de fazer a passagem.
        A resposta de Luca a assustou um pouco.
        - Ainda não entendi como apareci aqui. Esse lugar parece um cenário...
        Ela analisava minuciosamente cada detalhe da casa de Fred quando sua expressão mudou. Era como se algo tivesse ficado muito claro de repente.
        - Ahm...posso ir até a porta?
        Luca não entendeu bem o que estava acontecendo, mas concordou. Ela pegou sua mochila, guardou a carteira e colocou a bolsa nas costas.
        - Não sei se é uma boa ideia você sair agora.
        Ele estava preocupado que outras pessoas da aldeia a vissem.
        Mal Luca terminou a frase e a moça pulou da varanda correndo em direção ao bosque, o mais rápido que podia. Luca sabia que ela não deveria ser vista com aquelas roupas pela Aldeia. E se Hadel estivesse por perto seria muito perigoso para todos eles, então saiu correndo atrás da jovem.
        - Espera! Onde você vai?
        - Vocês não vão me enganar com essa loucura de "Green sei lá o que", eu sei que isso é coisa do meu pai!
        Quando Luca a alcançou, os dois caíram sobre as raízes de uma árvore, já dentro do bosque. Ao se levantar para fugir, o pé da jovem prendeu em uma das raízes e ela caiu.
        - Me escuta! - gritou Luca segurando os dois braços da menina antes que ela conseguisse se levantar.
        - Não adiantar tentar me enrolar! Eu sei que meu pai pagou vocês por esse teatro. Ele não vai me convencer de que eu fiquei louca!
        - Eu não sei quem é o seu pai e você não está achando tudo realista demais para ser um cenário, não? Eu tô tentando te ajudar, você não vê?
        - Eu só vejo o dinheiro do meu pai montando tudo isso aqui, isso sim.
        - Eu te explico tudo, mas você precisa se acalmar e não sair correndo, pode ser?
        A menina olhou para Luca com raiva, mas viu que deveria ceder. Ele não ia soltá-la se ela não se acalmasse.
        - Está bem, pode me soltar.
        Luca não sabia se podia confiar naquele "está bem", mas de nada ia adiantar continuar segurando-a. Assim que ele a soltou, ela se sentou e puxou a mochila para o colo. Quando Luca começou a falar, a jovem puxou algo de dentro da mochila e Luca sentiu uma ardência insuportável nos olhos. Sua única reação foi gritar de dor e ver o vulto da menina correndo para as árvores.

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